A vida que eu inventei escrevendo

20 e Poucos Anos

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 A vida é fácil e simples e tudo que é simples me encanta e você sempre foi simples, vai ver foi isso. Afinal em 20 anos eu nunca vi nada assim, nunca vi uma blusa P com alguém tão bem encaixado nela, você preenchia todo o sapato 38, você era a medida certa daquela calça 40, você era do tamanho certo e cabia no meu coração.
 28 e uns quebrados, era isso. Era o fio do cabelo branco, era a mania de saber de tudo e era a minha mania de sempre não querer saber de nada. Era isso, era a sua cômoda cheia de miniaturas de lugares que você ainda queria conhecer e era o "big bang" que eu coloquei lá porque eu sempre gostei de Londres e queria que a gente fosse pra lá um dia. Era aquele bichinho de pelúcia pendurado na cortina e era meus ciúmes por nunca ter te dado aquele ursinho ou qualquer outra coisa que você iria pendurar na sua vida ou em qualquer janela em qualquer lugar em qualquer momento. Era isso, meus 19 anos, era a minha paranoia e era o meu jeito apressado. Era achar que podia viver 28 em 19, em 6 meses. Era isso.
 Porque eu sempre quis correr, mas eu nunca te contei isso, porque eu esperava você dormir e sempre fazia planos de sair no meio da noite e te deixar lá, mas eu nunca fiz. Era eu, a mania de sempre estar saindo e nunca ficando, a mania de querer te trancar no seu quarto e engolir a chave, era eu com toda a minha neurose e possessividade, dois defeitos que me impediam de olhar nos olhos, bem lá no fundo e dizer que te amava mais do que qualquer jogo de vídeo game, mais do que qualquer CD novo, mais do que qualquer roupa bacana e que eu te amava mais que manhãs geladas com solzinho amarelado e céu azulado.  
  A verdade é que eu nunca vou entender os motivos pelos quais eu queria sentar na sua cama e ficar ali por dias só te olhando. Eu com toda minha política de amar, aceitaria numa boa ficar dentro do seu guarda-roupa, pendurado no seu cabide ou talvez dobrado em cima da sua calça, aquela clara, um pouco desbotada, que ainda sim, te deixava incrível dentro dela. Eu nunca vou entender porque eu toparia, sem reclamar, ficar na sua estante do lado dos livros e apostilas sobre "ressuscitação neonatal", aquela apostila chata que você sabia de trás pra frente e na sua narração parecia o mais bonito dos cantos que qualquer humano poderia reproduzir. Eu que sempre defendi a reciprocidade no amor, toparia sem pestanejar te amar sozinho, te amaria sozinho pra sempre numa boa. 
20 e poucos anos, que cabiam perfeitamente nos meus 19 anos, história contada pra gerações, tragédia estilo Romeu e Julieta, naufrágio digno de Titanic e amor além da vida melhor que Ghost. História de cinema, vida de cinema, em Hollywood as coisas sempre se acertam no final e a gente teria o nosso lugar ao sol. Mas essa é a vida nos cinemas, bem contrária a vida real onde a gente só se deu mal.
 Auge da minha lucidez eu te desejei mais do qualquer louco renascentista do século das luzes, eu te pintei nos meus sonhos, eu te escupi nos meus medos eu te descrevi em minhas vontades. Dei o golpe na coroa e fugi do seu país, eu fugi de você, de todas as vezes que eu planejei, de todas as vezes que eu quase fui, de todas as tentativas que não foram bem sucedidas, desta vez eu fui. Exilei-te no seu coração e fugi com o meu. Como toda boa história, o mocinho sempre se dá bem no final, mas não nesse conto, e nem neste final. 

 
 



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