A vida que eu inventei escrevendo

O FIM DO AMOR ESTÁ A UM JAPA DE DISTÂNCIA

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 Eu nunca vi o amor morrer, quer dizer, eu já passei por isso antes, porém essa foi a primeira vez que o antes passou isso tudo por mim. Como uma catraca girando a todo vapor os meus “momentos” foram saindo. Parece que alguém tocou uma sirene de emergência e todos os meus sentimentos, e células, e ossos e pele estão saindo de mim com uma euforia imensa.
 As suas mãos estão pesando quanto agora, umas 15 toneladas? Porque elas não percorrem mais sobre os meus ombros com a mesma leveza de antes e sim afundam e deslocam cada centímetro do meu esqueleto.
 Quando o amor morreu o seu celular estava desligado, assim como o meu corpo. Eu que tanto quis te contar todas as histórias da minha vida, contar sobre a música nova, sobre o filme novo ou recitar algum trechinho do livro que li naquela semana. Dessa vez eu só queria ir embora. Só eu e você, e já ia me esquecendo, esse seu celular. É quase desleal concorrer contra todos os amigos, amantes e amores. É bem desconfortável, mas a gente fica. Vez ou outra a gente deixa pra lá, porque eu não posso ocupar todos os seus momentos, e pra falar a verdade eu nem queria mais. Olho o meu celular e ainda tem uma longa tarde quente.
 Você decide ir almoçar, está em uma dieta nova mirabolante que leu em algum livro pseudo-intelectual ou talvez até seja intelectual, não importa. A pedida da vez é um japa, eu só vou de companhia, porque dentro de mim não havia mais nem força de vontade para brigar por um outro lugar mais confortável. Passamos duas horas conversando, quer dizer, você respondendo mensagem no seu celular e eu sustendo um monólogo enquanto tentava imaginar o que eu realmente estava fazendo ali que não poderia estar fazendo em casa. A tecnologia evoluiu tanto que me permitia estar em casa deitado, assistindo algum filme pela 10ª vez, e ainda sim conversar com você. Então por que raios eu troquei falas decoradas por um monólogo num japa?
 Voltamos e eu me armo todo para pular da janela do 14ª andar, mas até para um suicídio não me mostro disposto. Você questiona sobre a minha vontade, só consigo dizer que preciso ir embora, que estou com uma saudade imensa de casa, como um viajante que abandonou o lar anos atrás. Deito com você, mas não consigo ignorar que minha mente não consegue deixar de funcionar um segundo. Eu não sou leve e não nasci pra ser isso. Minha alma deve pesar uns 900kg e não existe dieta no mundo que me faça perder isso, já tentei desligar celular, esconder celular, desativar facebook e até mesmo bloqueio no whatsapp, mas não tem jeito. Não importa o tamanho do coração, com todo o meu peso, tudo desaba quando eu coloco os pés.
 Mas o fim, o amor nas suas últimas gotinhas. Espremendo, apertando, forçando, gritando. A merda toda jogada no ventilador, não tem volta. Não quero que leve a culpa pra casa, deixa ela dormir na minha casa por uns dias, você pega nos finais de semana e a vida segue. O que não dá mais é pra continuar, meu coração louco cansou de bater na parede do meu peito, a insanidade de te ver todos os dias passou. Sem camisas de força e nem ataques verbais, o fim do amor é a morte mais trágica em vida, mas fim é fim e ponto final.
 Decido ir embora e você decide pegar o ônibus. Olha-me nos olhos e tenta um beijo de despedida. Viro o rosto e você me chama de “estorvo”. Eu que quis segurar seus medos e vontades e nunca mais deixar nada de ruim atrapalhar seus sonhos, hoje só quero mesmo que tudo isso vá pra bem longe de mim, que pegue uma passagem para alguma cidadezinha de Minas e suma. E foi assim que você fez.


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